O Homem Quebra Cabeça e a Peça que Falta

Sábado à noite, vagando pelo Facebook entediada, passei por uma imagem: um homem feito de peças de um quebra cabeça com um espaço faltando perto de onde seria seu coração. O homem tinha em cima de uma mesa a peça que faltava, estava finalizando a mesma, transformando seu contorno para que ela encaixasse naquele espaço escuro em seu peito.

O nome do desenho é “Me”, de LongHomeFox, e foi publicada no DeviantArt. Não vou publicá-la aqui, quero que você imagine da forma que preferir. Uma rápida pesquisa no Google e vai encontrar o desenho e vários outros da mesma série, caso esteja curioso. Até recomendo procurar, o trabalho é lindo, mas peço que espere até o final do texto, exercite sua imaginação por esses cinco minutos de leitura.

Todo o cenário do desenho é feito com madeira e ferramentas para construir coisas. O homem é feito de peças de madeira e trabalha na última que falta para ficar completo. Seus olhos parecem ao mesmo tempo tristes, determinados e frustrados, como se aquele ato machucasse. Como se remover os pedaços da peça com uma lâmina de alguma forma o fizesse sentir um tipo de dor.

Admito que gosto de pensar demais sobre tudo que vejo e sinto, então tudo pode ser parte de uma ilusão dos meus pensamentos confusos. Isso é a parte boa da arte, é o que dizem, pode conseguir diversas interpretações da mesma.

O tal desenho me fascinou, não no primeiro momento, quase o perdi de vista distraída com as banalidades da rede social. Alguma coisa, entretanto, me fez voltar para o desenho e observar com cuidado os detalhes apresentados. Meu cérebro, maluco como é, logo começou a divagar sobre o que aquilo tudo queria dizer.

Qual o problema com seus olhos? Por que ele é feito de peças? Por que uma está faltando? Ele mesmo se construiu ou aquele ato é uma exceção? Ele perdeu a peça? Alguém a tirou do lugar? O que quer dizer tudo isso?

Não sei responder nenhuma das perguntas, mas felizmente gosto de refletir sobre as várias opções. O desenho intrigante me proporcionou várias. Seus olhos poderiam dizer coisas diferentes que encaixariam com os diversos cenários possíveis. Eu poderia escolher o que estava em sua mente.

Talvez pelo momento que estou vivendo, a interpretação do desenho que mais me atraiu foi a de que o homem-quebra-cabeça representava como, durante os anos, passávamos a construir formas de nós mesmos. Cada mudança, cada experiência, sendo ela boa ou ruim, acrescentava algo em nossa vida. Talvez o buraco em seu peito fosse uma peça anteriormente, mas ela não servia mais. Baseado em seus olhos, pareceu para mim que aquela experiência havia sido ruim, algum relacionamento, por estar onde seu coração deveria estar.

Construir a nova para colocar no lugar talvez não fosse o que o homem queria, por isso a frustração, por isso o olhar triste. Mas a determinação me indicou que era um trabalho necessário. Construir seu coração, ou sentimentos, sozinho não era o desejo no momento e aquilo o entristecia, mas ele não podia continuar com uma peça faltando, com uma ferida exposta bem em seu peito.

Talvez eu nunca saiba o que o autor do desenho quis passar com aquilo, talvez tenha um sentido completamente diferente. Mas para mim, era o que queria dizer enquanto observava. Era, inclusive, o que eu precisava ver naquele momento.

A demonstração de que, infelizmente, o que você queria pode não acontecer. Que abrir seu coração para outra pessoa pode acabar machucando, abrindo um buraco onde as idealizações estavam. Mas que a vida não para por isso. Por mais que a presença de alguém fosse importante ali, às vezes você precisa ser forte para costurar seus machucados, construir novas peças para cobrir as feridas e continuar vivendo.

Viver é difícil, machuca, é frustrante. Mas é breve e é importante lutar para aproveitar o tempo. Continuar sofrendo por uma peça que não se encaixa não faz bem algum. Você deve juntar as ferramentas e construir aquilo que vai te completar, por mais doloroso que seja, alguma hora o vazio vai ser preenchido.

Homem-quebra-cabeça